segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Android: livre como o Windows


Sempre perguntei a amigos "geeks", que usam ou já usaram ambas as plataformas (iOS e Android), quais as diferenças entre elas. E sempre ouvi a mesma coisa: "no Android você é mais livre".

Também sempre vi esse discurso em foruns e blogs. É uma espécie de bandeira levantada pelos usuários de Android para defenderem sua plataforma favorita. Faz parte da identidade da marca. Já criaram até itens de souvenir com isso, vejam só:














Eu, enquanto usuário de iPhone, não entendia o que eles queriam dizer, pois a gente acha que é livre usando o iPhone (afinal, com aqueles milhares de app's disponíveis para baixar, que outra liberdade nós poderíamos querer, não é mesmo?). Mas a gente só consegue entender realmente essas coisas quando efetivamente pegar um para usar (daí eu ter decidido testar o Android e criar esse blog). E hoje eu sei que, no iPhone, nós temos liberdade e no Android, LIBERDADE.

Se eu tivesse que definir com apenas uma palavra o que mais me chamou a atenção logo que comecei a usar o Android, a palavra seria justamente essa: "Liberdade".
Mas também podemos usar outras palavras para definir isso: flexibilidade, customização, integração, acessibilidade etc.

Sim, o Android é um sistema com rédeas bem mais frouxas do que o iOS, que é mais rídigo e cheio de limitações propositais impostas pela Apple. Não estou dizendo que é ruim ser rígido, nem tampouco que é bom ser liberal; esse tipo de conclusão eu só terei - se é que terei - ao final desse período de experiência que passarei com o Android. Mas basta usá-lo por algumas horas para ver que estamos numa plataforma mais liberal, onde o usuário tem mais opções de escolha do que no iOS. Traçando um paralelo bem superficial, seria como a diferença entre viver numa Democracia e viver numa Ditadura (também não estou aqui tomando partido por nenhuma delas).

Mas que liberdade é essa? Vou tentar explicar minha percepção em alguns tópicos (já viram que adoro tópicos, né?):

1) Acessibilidade - permissão de acesso direto aos arquivos (inclusive os do sistema)


O Android tem, como parte do sistema, uma pasta chamada "Meus Arquivos", que te permite navegar por tudo que esteja salvo no aparelho, até mesmo os arquivos de sistema do próprio Android. É uma espécie de Windows Explorer no celular. Facilita bastante, pois a gente navega pelas pastas e já pega diretamente o que quer. Suas músicas? Estão em alguma subpasta dentro de "Meus Arquivos". Seus vídeos e livros? Idem. Se você instalou app's para tirar algum tipo especial de foto ou para gravar ligações, eles certamente criaram subpastas ali para salvar as imagens e audios e você pode acessá-las diretamente. É como se as entranhas do sistema estivessem totalmente expostas a você.

No iPhone é diferente. Não há uma pasta de gerenciamento de arquivos (a menos que você tenha feito Jailbreak), na qual você tenha acesso direto a tudo que esteja salvo no celular. Se você quer abrir um arquivo PDF, por exemplo, tem que primeiro abrir o app leitor de PDF e depois escolher o arquivo, provavelmente numa bela estante (o Android também tem essa opção, mas no iPhone essa é a única opção).

Mas essa diferença já era de se esperar, principalmente para quem conhece a Apple. Quando comecei a usar Mac, demorei um pouco a me acostumar com isso. Só para citar um exemplo, eu passava um mp3 pro Mac e, na hora de tentar transferi-lo para outro lugar, percebia que o arquivo da biblioteca de músicas é bloqueado e você não consegue abri-lo assim de cara, só conseguindo acesso às músicas através do iTunes (que não permite que você as transfira para um HD externo, por exemplo). "Como assim? Não posso ter acesso diretamente aos meus arquivos?! Sou obrigado a usar um player qualquer para acessá-los, sem manuseá-los diretamente? Quem a Apple pensa que é para ditar a forma como terei acesso aos meus arquivos?", eram perguntas que eu me fazia. Mas depois que se acostuma, passa-se a ver isso até como uma vantagem (até porque você acaba descobrindo formas de acessar os arquivos diretamente quando precisar. rs).

Para concluir, vou passar rapidamente pelos pros e contras que eu vejo em cada um deles:

   Android: a existência desse gerenciador de arquivos fornece praticidade para o uso do telefone; no entanto, cada desenvolvedor de app's cria pastas de nomes muitas vezes irreconhecíveis, com arquivos de programa, que o usuário não precisa ver, e os arquivos que interessam ficam ali misturados, num emaranhado de pastas e subpastas, por onde o usuário precisa ficar navegando, indo e voltando, até encontrar o que procura. Isso dá um ar de mal acabado ao sistema. Além disso, corre-se o mesmo risco que se corre no Windows, de ter arquivos de sistema apagados pelo usuário. E, se os arquivos estão expostos a você, certamente também estarão mais acessíveis a app's mal intencionados.

O usuário precisa mesmo ver isso?

     iPhone: você não tem a praticidade que a pasta do Android proporciona e, por isso mesmo, muitas vezes tem mais trabalho para fazer uma tarefa do que teria no Android. No entanto, apenas os arquivos que te interessam ficam visíveis a você (que não vai conseguir apagar acidentalmente nenhum arquivo do sistema). Com isso, tem-se maior segurança contra vírus ou malwares. E a experiência de uso acaba sendo mais sofisticada e elegante, pois a "bagunça" dos diretórios e arquivos fica escondida, em segundo plano.

2) Customização

O Android é bem mais customizável do que o iPhone, isso é fato. Se você fizer uma pesquisa por "Android" no Google Imagens, vai se deparar com tantas variações, dentro de uma mesma versão, que em alguns momentos vai pensar serem sistemas totalmente diferentes. Você consegue alterar a aparência do sistema como um todo. Se quiser que os ícones sejam variações de um Pokemon ou que sejam apresentados na tela na forma de uma espiral ou rolando em círculos, você vai conseguir fazer isso no Android. Já no iPhone, as possiblidade são bem mais limitadas.

Para mim, isso não faz a menor diferença, pois não gosto de "enfeitar" o sistema e costumo deixá-lo quase exatamente do jeito que vem de fábrica (altero no máximo o fundo da tela).

3) Integração entre app's e o sistema operacional

Esse ponto é incrível no Android. O sistema é absolutamente aberto à integração com app's de outros desenvolvedores. 

O que isso quer dizer? Quer dizer que, no Android, os app's de terceiros conseguem se integrar ao sistema operacional e usá-lo como uma espécie de extensão deles mesmos. Vejamos o que ocorre com sua agenda de contatos: após instalar, por exemplo, os app's do Facebook, Google+, Skype, Whatsapp e Viber, estes app's estarão automaticamente linkados em cada um dos seus contatos na agenda, de acordo com o que cada contato usa. A partir da agenda, você pode ir para o perfil da pessoa no Facebook ou Google+ ou então iniciar uma conversa por mensagens pelo Skype, Whatsapp ou Viber. Ao clicar sobre o número da pessoa para fazer uma ligação, antes te serão dadas as opções de ligar pela operadora, pelo Skype ou pelo Viber (que são app's que oferecem ligações VOIP). Se você tiver instalado outro app de comunicação, ele também entrará no rol de opções (caso o desenvolvedor tenha previsto isso). O mesmo acontece com suas mensagens SMS. Ao instalar um app que precisa de ativação via SMS (como o Whatsapp), você não precisa sair do app recém-instalado, ir para os SMS, copiar o código recebido, voltar para o app e colar o código. O próprio app identifica quando o SMS chega, vai lá e busca o código e se ativa sozinho. Isso é integração entre app e sistema operacional e é uma característica excelente do Android.

Mas o sistema não faz milagres. Enquanto escrevia esse post e fuçava no celular para descobrir mais detalhes a abordar, descobri que essa tal integração não traz apenas benefícios, mas traz alguns problemas também. Se você tem um contato sem e-mail (apenas com o telefone) na sua agenda, quando você instalar o app do Facebook, o sistema não vai conseguir identificar que aquele contato que você já tem é o mesmo que está chegando agora, vindo do Facebook, e por isso haverá a criação de 2 (ou 3, ou 4...) contatos diferentes, mas que na verdade são a mesma pessoa. Isso aconteceu com inúmeros contatos meus, e eu estou resolvendo aos poucos através da associação (fusão) de contatos (que tem de ser feita de um por um).

E, mesmo dentro do mundo Google, essa integração com serviços de tercerios é exclusividade do Android. Se você for lá na sua agenda de contatos no GMail (que é sincronizada com a agenda do Android), verá que essa integração não existe por lá. Lá no ambiente web não é feita nenhuma referência aos perfis dos seus contatos no Facebook, Skype, Whatsapp, Viber...o único mencionado é o Google+ (que o Google quer a qualquer custo que a gente use). Então o ecossistema Google fica meio capado, meio truncado...se você perder o celular, quando for sincronizar o próximo Android com sua agenda, todo aquele trabalho que teve para associar na agenda os vários contatos duplicados (referentes a cada perfil daquele contato em serviços diferentes) estará perdido, e você terá de fazer novamente aquela tarefa de fusão de um por um. 

Outra questão igualmente chata: se você tem um contato com 3 telefones e, no Skype, essa pessoa colocou os mesmos 3 telefones, esses telefones do Skype estarão com o +55 na frente quando forem integrados à sua agenda, o que fará com que o Android os considere telefones diferentes e, por isso, o contato ficará com 6 números. Seria fácil simplesmente excluir 3 deles, certo? Mas há um problema aí: os números que vieram do Skype você não consegue excluir, pois são os que o contato colocou no perfil e são de apenas leitura; e, se você excluir aqueles que você já tinha, eles também serão excluídos lá nos Contatos do GMail (o que, certamente, nós não queremos). Então, a melhor alternativa que eu encontrei foi deixar o contato com 6 números mesmo. Agora, imagine isso acontecendo não só com os telefones, mas com os e-mails e demais campos dos seus contatos...imagine a bagunça que fica sua agenda.

Descobri ainda que, como os números do Skype ficam sempre com "+55" na frente, se você clicar em um deles na agenda e logo depois escolher a opção "operadora" para fazer a ligação, você não conseguirá fazê-la, pois a rede da operadora não reconhece esse padrão de número (cai sempre na gravação pedindo pra você verificar o número). Quer dizer, existe a integração, mas, na hora de ligar, dependendo do número que você clicar, você precisará escolher o app certo pra fazer aquela ligação. Ora...isso não é integração de verdade...

Mais uma: atribuem-se serviços a contatos que sequer têm cadastros neles. Ao entrar no cartão do meu eletricista na agenda e clicar no ícone para enviar mensagem, me foram oferecidas as opções de enviar  via SMS, Facebook Messenger, Skype, Viber e Whatsapp. Achei estranho, pois sei que nem smartphone ele tem e provavelmente sequer saberia o que vem a ser Whatsapp ou Viber, p. ex. Além disso, eu não tenho e-mail dele (tenho apenas telefones) e, portanto, o sistema jamais poderia me dar a opção do Facebook Chat. Mesmo assim, tentei enviar a mensagem usando todos esses serviços, mas, como era de se esperar, ao ir para a tela do respectivo app, não abria tela nenhuma de conversação com esse contato. Só consegui enviar a mensagem via SMS mesmo. No dia seguinte, confirmei com ele e realmente ele nunca teve conta em nenhum desses serviços e, com relação ao Skype, Whatsapp e Viber, sequer ouviu falar.



Sinceramente? Comecei esse post achando que essa integração era algo extraordinário que o Android possui. A idéia realmente é uma maravilha e salta aos nossos olhos no início. Mas, tendo em vista todos os pontos negativos descritos acima, eu continuo preferindo o iPhone nesse aspecto. Ele não tem essa integração tão profunda, mas em compensação tudo o que está na agenda do aparelho também é levado para a nuvem (iCloud). Você não fica com números ou e-mails repetidos na agenda, tendo, no fim das contas, que escolher, entre números iguais (repetidos com pequenas variações de formatação), qual vai usar com determinado serviço. Entre ter que escolher entre números repetidos numa agenda bagunçada ou escolher manualmente, sem passar pela agenda, qual app abrir para conversar com um amigo (como é no iPhone), eu particularmente prefiro a segunda opção.

Para essa idéia da integração dar certo, seria necessário que houvesse uma padronização (protocolo) entre os diversos serviços e app's envolvidos. Só para citar um exemplo relativo apenas à parte dos números telefônicos, seria necessário que o Google estabelecesse um padrão para números de telefone para serem usados no Android, que fosse obrigatoriamente seguido pelo Skype, pelo Whatsapp, pelo Viber, pela própria agenda do Android etc. E o mesmo se aplica para as outras incompatibilidades. Falta padronização.

É como me disse certa vez um outro amigo (que também já usou as duas plataformas): "No iPhone você tem menos opções, mas o que ele se propõe a oferecer funciona bem; no Android, você tem uma infinidade de alternativas, mas muitas delas não funcionam adequadamente e quem vai realizar o processo de tentativa e erro até decidir o que funciona é você". Pode soar estranha, no contexto atual, essa afirmação de que "no iPhone...o que ele se propõe a oferecer funciona bem", diante do que ocorreu recentemente com os mapas...isso é assunto pra outro post, talvez. Mas, no assunto que estamos discutindo aqui (integração entre agenda e app's), a afirmação do meu amigo se mostra absolutamente certa.

Por fim, não há como negar que essa abertura das portas do sistema a outros app's torna o Android bem mais vulnerável à ação de app's mal intencionados (malwares, vírus etc.).

4) Bluetooth

O Bluetooth do Android permite a transferência de qualquer coisa. Documentos, músicas, e-books, aplicativos e até arquivos do sistema. É tudo liberado. Na imagem abaixo, alguns app's que foram transferidos para mim via bluetooth, a partir do Android de um amigo.


No iPhone, o bluetooth só funciona para a sincronização do celular com algum outro dispositivo para a comunicação simultânea de dados, como um fone de ouvido bluetooth, uma central multimídia automotiva, um aparelho de GPS etc. Se você quer transferir um arquivo para outro dispositivo, terá que se contentar com as opções de transferência oferecidas pelo próprio app, ou então através da sincronização do celular com o programa iTunes, no Mac ou no Windows.

Mais uma vez, o Android se mostra mais prático e liberal que o iPhone. É ótimo usar o bluetooth para transferir ou receber qualquer coisa. Mas vamos pensar juntos? Isso não é um incentivo à pirataria? Se eu tenho uma música e posso transferi-la para você com toda facilidade do mundo, via bluetooth, por que você iria comprá-la? Eu sei que não é por causa disso que as pessoas compram músicas piratas e que, igualmente, não seria a falta do bluetooth que as faria deixar de comprar esse tipo de arquivo, mas acho que o sistema não deveria ser tão liberal a esse ponto, pois todos concordam que a pirataria é algo ilegal e imoral, pois os músicos têm direito de receber pelo seu trabalho (se eles ou as gravadoras abusam ou não, isso é outra história). Então, sem querer desviar muito (mas já desviando) o foco do blog, acho contraditórios certos posicionamentos das pessoas, pois, ao mesmo tempo em que condenam moralmente certas atitudes de políticos, autoridades e outros cidadãos, concordam em receber de graça ou compartilhar músicas ou app's pagos via bluetooth. E criticam a Apple porquê? Pelo fato de, lá naquele ecossistema, ser mais difícil fazer isso?

Eu quero ver é quando o Google Play começar a vender músicas, filmes e livros no Brasil. Será que o Google vai manter esse bluetooth liberado assim, mesmo prejudicando sobremaneira suas vendas? Pois alguns poucos vão comprar. A maioria vai pegar de graça. Será que as gravadoras, a indústria cinematográfica e as editoras vão concordar em deixar seus arquivos de alta qualidade na loja do Google, sendo que seu sistema móvel é um grande portal para a distribuição gratuita em massa?


Ou seja, essa liberdade toda que o Android oferece, essa grande abertura e flexibilidade que ele possui, ao mesmo tempo que são, à primeira vista, fascinantes aos olhos do usuário, trazem não apenas pros, mas também vários contras, como vimos aqui. 

Um certo pensador, cujo nome não me recordo, já dizia que liberdade demais causa desigualdade. Muita liberdade acaba virando libertinagem e caos. Por isso, é preciso ter um equilíbrio. E sempre disse e repito que o "ecossistema murado" da Apple me atrai bastante. E a liberdade do Android também me atrai, mas tenho consciência de que tenho que me preparar para as suas desvantagens, como por exemplo o fato de que certamente ela é uma das grandes responsáveis pelo grande número de vírus e malwares existentes para Android, enquanto no iPhone, com as rédeas curtas da Apple, pouquíssimos já foram identificados.

E vocês? O que acham? Comentem abaixo!



Atualizado em 04/11/2012:

Sabe essa parte acima na qual eu falo sobre a integração do Android com app's de terceiros, onde eu chego a elogiar a funcionalidade disso na agenda de contatos mas, no fim, chegou à conclusão que não vale a pena, tendo em vista a desorganização criada nos contatos?

Pois bem...hoje eu descobri algo que me surpreendeu: a quantidade de associações que você pode fazer é limitada a 5! Isso quer dizer que, por exemplo, se você tem um contato que usa Facebook, Skype, GMail, Whatsapp, Google+ e ChatON, como é o meu caso aqui (o que totaliza 6 serviços), você, de qualquer forma, terá que ter esse contato duas vezes na agenda (um deles associando 5 serviços e o outro associando do sexto em diante).

Ah, não! Aí não dá! O título do post é "Android: livre com o Windows"...me deu vontade de mudar o título do post por causa disso. Cadê a liberdade? Isso me fez lembrar do comercial de uma operadora de celular: "estão dizendo por aí que são ilimitados, mas depois você descobre que esse 'ilimitado' tem limite".

Definitivamente, eu prefiro a agenda de contatos do iPhone. Simples, clean e organizada.

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